sexta-feira, 11 de março de 2011

O fotografo

É difícil fotografar o silêncio , mas Manuel de Barros tentou .E gostou , para ele a foto saiu legal.

" Difícil fotografar o silêncio. Entretanto tentei .
Eu conto :
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho , ninguém passava entre as casas .
Eu estava saindo de uma festa . Eram quase quatro da manhã .
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado .
Preparei minha máquina .
O silêncio era um carregador ?
Estava carregando o bêbado .
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada .
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume .
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo .
Fotografei o perdão .
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa .
Fotografei sobre . Foi difícil fotografar sobre .
Por fim eu enxerguei a nuvem de calça
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski seu criador .
Fotografei a nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir a sua noiva .
A foto saiu legal."
[ Manoel de Barros ]

Um comentário:

  1. Ah o silêncio!!!!

    Para perceber o silêncio é necessário remover o som interior, e não o som exterior. O som interior é o espírito das palavras, e as palavras a alma dos pensamentos. Como as palavras existirão sem o som? Como os pensamentos existirão sem as palavras? Elimine o som interior e não haverá nenhuma palavra. Elimine as palavras e não haverá nenhum pensamento. Remova os pensamentos e ficará apenas o silêncio. Na verdade é o pensamento que não permite a percepção do silêncio, e não o barulho que se processa no exterior. Faça cessar os pensamentos e então perceberás o único e verdadeiro silêncio. Esteja circundado no mais intenso barulho, sem pensamentos, e ali estará um profundo silêncio.

    Assim, não te tocará o barulho exterior, quando tiveres penetrado o silêncio interior.

    Lembre-se: O silêncio está sempre lá, não pode ser removido, ele é o espaço e não o objeto. Os objetos vão e vem, podem ser trocados, podem ser eliminados... E quando eles estão lá, eles impedem que você veja o espaço. Remova o objeto, remova o pensamento, você ficará de frente com o silêncio.

    Edson Carmo
    http://edsoncarmo-amor.blogspot.com/2010/04/o-mais-profundo-silencio.html

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