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Sei que viver está cada vez mais dificultoso.
Mas talvez por isto mesmo ou talvez devido a esse setembro azulzinho ,a essa primavera que vem aí ,o fato é que o tema da delicadeza começou a se infiltrar , digamos ,delicadamente nesta crônica ,varando os tiroteios, as palavras ásperas e os gestos grosseiros que ocorrem nos cruzamentos da televisão ou do cinema com a própria vida.
Talvez devesse lançar um manifesto pela delicadeza.
Drummond dizia: Sejamos pornográficos docemente pornográficos . Parece que aceitaram exageradamente seu convite , e a coisa acabou em grosseiramente pornográfico. Por isto , é necessário reverter poeticamente a situação e com Vinícius de Moraes ou Rubem Braga dizer em tom de elegia ipanemense.
Meus amigos, meus irmãos sejamos delicados, urgentemente delicados.
Com a delicadeza de São Francisco de Assis, se pudermos.
Com delicadeza rija de Gandhi , se quisermos.......
Está aí: porque somos ferozes precisamos ser delicados.
Os que não puderem ser puramente delicados , o sejam ferozmente delicados.
A delicadeza não é só uma categoria ética. Alguém deveria lançar um manifesto apregoando que a delicadeza é uma categoria estética.
Sei que vão dizer : a burocracia , o trânsito , os salários , a polícia , as injustiças , a corrupção e o governo , não nos deixam ser delicados.
E eu não sei ?
Mas de novo vos digo : sejamos delicado.
E se necessário for , cruelmente delicados."
[Por delicadeza, é claro a primeira crônica do livro escrita em março de 2.007.]
Affonso Romano Sant'Anna
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